Rumo a Cracóvia 2016 (1)
ENCONTRO FORMATIVO 1
Quem nos fará felizes?
Introdução/objetivos
Todos os homens aspiram à felicidade. Nisso estão de acordo, desde a antiguidade até ao presente, filósofos, teólogos e psicólogos, pro mais diferentes que sejam os seus pontos de vista quanto aos meios; do mesmo modo, grandes escritores, entre os quais alguns tão diferentes entre si como Dostoiewski, Herman Hess ou Graham Green.
«Todas as pessoas querem ser felizes»: este axioma do maior filósofo grego – Platão – foi aceite e retomado, tanto pelo teólogo Santo Agostinho, como também pelo psicólogo Freud. A Filosofia entendeu-se, desde sempre, como arsbene e beatevivendi, como doutrina e instrução da vida boa e feliz.
A Filosofia grega conhecia três palavras para designar aquilo que, na nossa língua, denominamos a felicidade:
- a) O primeiro conceito é eudaimonia. Eu significa «bem, bom» e daimon designa o «anjo da alma». O que se quer referir, com este vocábulo, é o âmbito interior da alma, o potencial anímico no homem. É feliz, portanto, a pessoa que tem uma boa relação com a sua alma, isto é, com o seu núcleo divino.
- b) O segundo conceito para designar felicidade é eutyche. Tyche é o acaso. Eutyche significa, pois, o que me sucede de bem. Dizemos: «Tive sorte». Isso quer dizer: «sucedeu algo que me fez feliz». Esta felicidade sucede, pois, vinda do exterior. Sucede, simplesmente. Não se pode forçar, como o próprio comportamento.
- c) Um terceiro conceito é ainda mais importante, se queremos aproximar-nos mais da compreensão bíblica da felicidade: makarios. Este conceito significa «feliz», «ditoso», e, entre os gregos, é reservado unicamente aos deuses. Os deuses do Olimpo eram livres. Não estavam sujeitos ao trabalho e às canseiras da vida. Não precisavam de se orientar por ninguém. Eram totalmente eles próprios, eram perfeitos em harmonia consigo mesmos, independentes de outros seres humanos e de poderes alheios exteriores. Eram felizes por causa da sua imortalidade e perene juventude. A Bíblia, no Antigo Testamento, utiliza precisamente este terceiro termo para descrever o estado da pessoa que se orienta pelo mandamento de Deus, e, no Novo Testamento, para descrever o estado da pessoa que escuta e põe em prática as palavras de Jesus. Segundo Jesus, é feliz quem O vê no seu mistério divino, O compreende e se orienta pelas suas palavras. Poder-se-ia dizer que, segundo esta compreensão, a felicidade alcança-se por meio de uma vivência, que me é concedida, por exemplo, por meio de uma intensa experiência de Deus. E a felicidade depende do meu agir, da escuta, e do seguimento das palavras de Jesus.
O Sermão da Montanha (Mt 5, 3-10) é o texto central para o nosso tema. É que, nesse discurso, Jesus utiliza oito vezes a palavra makarios. Oito vezes Jesus proclama os homens felizes ou bem-aventurados.
Objetivos deste encontro são:
- Ajudar a perceber o verdadeiro sentido da felicidade ao jeito de Jesus;
- Fazer a experiência da subida ao monte na perspetiva do seguimento de Jesus, da escuta da sua Palavra e do estilo de vida que compõe a sua lógica de felicidade;
- Levar a viver um realismo esperançoso próprio de quem “ri com quem ri” e “chora com que chora”.
2.Dinâmica
Porque não a dinâmica de subir, realmente, a um monte? Propor uma caminhada em que os jovens sejam convidados a não levar quase nada.
Convidar os jovens a fazerem uma caminhada, se houver um monte próximo subir a um monte. Esta caminhada será denominada “subir à montanha da felicidade”, sendo uma caminhada, simboliza a nossa caminhada na vida, em busca da felicidade.
Na impossibilidade de subir a um monte ou caminhar no exterior podem realizar-se as 3 paragens em 3 salas diferentes ou em 3 cantos da mesma sala.
Ao longo da caminhada haverá 3 paragens com uma dinâmica em cada paragem, como se segue:
1ª Paragem – Despojamento
Entregar a cada participante um cópia do texto abaixo e pedir que leiam em silêncio.
Segundo MatthieuRicard, existem dez coisas que nós acreditamos que nos farão felizes, mas que na verdade não farão. MatthieuRicard, é um monge budista e já foi apresentado como “o homem mais feliz do mundo”, tendo sido palestrante do TED sobre a felicidade, podes ver o vídeo no seguinte endereço: (http://tinyurl.com/TEDRicard).
Se olharmos bem e formos sinceros, vamos perceber que todos procuramos algo que está nesta lista… e provavelmente, procuramos até mais do que um dos itens. A lista é a seguinte:
- Ser rico, poderoso e famoso.
- Tratar o universo como se fosse um catálogo de pedidos para os nossos caprichos e desejos.
- Desejar “liberdade” para fazer tudo o que vem à mente. (Isto não é ser livre, mas escravos de nossos pensamentos).
- Buscar constantemente sensações prazerosas, uma após a outra. (as sensações de prazer rapidamente se desfazem e se tornam até chatas ou desconfortáveis).
- Querer vingar-nos de forma maldosa de qualquer pessoa que nos tenha ferido. (ao fazer isso tornamo-nos tão ruins quanto eles, e envenenamos nossas mentes).
- “Se eu tivesse tudo, certamente ficaria feliz”, ou “Se eu tiver isto ou aquilo, eu posso ser feliz.” (tais previsões não são geralmente corretas).
- Querer sempre ser lisonjeado e nunca enfrentar qualquer tipo de crítica. (o que não nos ajudará a progredir).
- Eliminar todos os seus inimigos. (A animosidade nunca nos trará a felicidade).
- Nunca enfrentar as adversidades. (Isto nos faz fracos e vulneráveis).
- Enfocar os nossos esforços em apenas cuidar de nós mesmos. (o amor altruísta e compaixão são as raízes da verdadeira felicidade).
Procura agora reler esta listagem e identificar itens que sentes que constituem pensamentos teus sobre a felicidade.
Depois do exercício de reflexão, o animador propõe que cada um se despoje de tudo o que não é essencial para caminhar… Devem ser coisas concretas como o telemóvel, a carteira, o casaco, etc. Estes objetos simbolizam o despojamento das ideias falsas sobre a felicidade que foram identificadas.
Conclusão: No nosso caminho para a felicidade precisamos de despojar-nos das falsas ideias sobre ela, ou corremos o risco de caminhar para falsas felicidades…
2ª Paragem – Sorte e Felicidade
Formar pequenos grupos de 3 a 4 pessoas e discutir no grupo a questão da sorte e da felicidade a partir das questões abaixo indicadas:
- Será sorte a mesma coisa que felicidade?
- Quais as diferenças entre sorte e felicidade?
- Partilhem momentos em que se sentiram pessoas com sorte ou pessoas com felicidade: Que têm em comum? Quais as diferenças?
Conclusão: A felicidade é muito mais uma construção do que um acaso, exigindo portanto, uma opção e trabalho. Na vida, podemos experimentar alguns acontecimentos (ocasionais) como momentos felizes, mas a felicidade que buscamos e que o nosso coração precisa/deseja não se esgota nalguns momentos felizes, é algo mais profundo.
3ª Paragem – Quem nos fará felizes?
Entregar a cada jovem uma folha com a citação do Zaqueu, o cobrador de impostos. A folha tem também algumas questões para identificarem o que significa a felicidade para Jesus e para Zaqueu.
“Jesus entrou em Jericó e atravessava a cidade. Havia ali um homem rico chamado Zaqueu, chefe dos publicanos. Ele queria ver quem era Jesus, mas, sendo de pequena estatura, não o conseguia, por causa da multidão. Assim, correu adiante e subiu numa figueira brava para vê-lo, pois Jesus ia passar por ali. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, hoje quero ficar em tua casa”. Então ele desceu rapidamente e recebeu-o com alegria. Todo o povo viu isso e começou a queixar-se: “Ele hospedou-se na casa de um pecador”. Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: “Olha, Senhor! Vou dar metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais”. Jesus disse-lhe: “Hoje veio a salvação a esta casa! Porque este homem também é filho de Abraão. Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido”.(Lucas 9, 1-10)
Zaqueu era rico e bem-sucedido na sua profissão de cobrador de impostos, no entanto alguma coisa não estava bem, pois sabendo que Jesus passaria por ali (e sabendo que ele fazia milagres e ajudava as pessoas) vai colocar-se num local onde O pudesse ver… Quando o vê toda a sua vida se transforma… Que alegria teria experimentado ele que fez com que dissesse que daria metade dos seus bens aos pobres? É o oposto daquilo que viveu até ao momento… Ele com o coração inundado da mais profunda alegria muda a sua vida.
O que era para Zaqueu a felicidade? O que mudou ao conhecer Jesus? O que passou a ser a felicidade para Zaqueu?
Jesus anda de terra em terra, falando com as pessoas, curando-as, dando-lhes dignidade, procurando que sejam felizes… A passagem de Jesus é marcante e muitos querem vê-lo. Ao perceber que Zaqueu era também um desses que O queriam ver, Jesus adianta-se e fala-lhe… E salva-lhe a vida. Que alegria tão grande seria a que Jesus sentiu para dizer “hoje houve salvação nesta casa!”
O que era para Jesus a felicidade? O que implicava construir a sua felicidade? Com que ações concretas a ia construindo?
O que é que este texto bíblico te diz a ti sobre o que é a felicidade, onde a encontramos e como a construímos?
Devem dar-se 10 minutos para que os jovens possam meditar/refletir em silêncio e depois promove-se uma partilha por grupos em torno das questões propostas.
Conclusão: A felicidade acontece no encontro com Jesus de coração a coração, que transforma as nossas vidas. A felicidade depende também do agir de cada um de nós, da escuta e do seguimento das Palavras de Jesus.
- Oração
(Rezar juntos a oração de S. Francisco de Assis; em alternativa, cantá-la com uma melodia que todos conheçam.)
Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz;
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé;
Onde houver erros, que eu leve a verdade;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar,
que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
- Mexe-te
Propor aos jovens um pequeno inquérito sobre a felicidade, pela comunidade, famílias e/ou escolas por onde vivem, decidindo juntos as perguntas a fazer e tirando partido dos resultados no próximo encontro.